“Fire, Smoke & Wine”
um jantar vínico com a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico
O hotel Hyatt Regency, em Lisboa, tem realizado um conjunto de jantares vínicos “Fire, Smoke & Wine Dinners”.
O hotel conta com vários espaços de restauração, inclusive uma sala de refeições específica para grupos, a Odyssey. Nesse espaço, há um forno a lenha e há grelhas, o que justifica o smoke e o fire do mote, aos quais se junta o wine, num conceito que procura a ligação entre vinhos e gastronomia de diferentes regiões de Portugal.
Estive num desses jantares, no final de Setembro, e que contou com a participação do produtor Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, ou seja, o tema foi a região dos Açores, uma refeição da qual partilho aqui algumas notas.
O welcome drink ficou a cargo do Arinto dos Açores 2020 branco Garrafeira. Um vinho que apresenta alguma evolução na cor, aroma iodado, com notas de fumo e um toque de cera de abelha, e com uma frescura cítrica. Um vinho com alguma cremosidade, levemente salino, de acidez pronunciada, com um final cítrico, bem seco, levemente salino, com boa persistência e alguma complexidade.
Para acompanhar um conjunto de duas entradas, veio o Arinto dos Açores 2022 branco, um vinho um pouco rústico na textura, seco, de final salino, para fazer boa companhia a um Torresmo com Emulsão de mexilhão e Malagueta, e a um Bolo levedo com Atum e Gema curada.
Seguiu-se o Terras de Lava 2023 rosé, um lote de Merlot e Syrah, um vinho aromático, predominância de fruta vermelha a lembrar morango, acompanhado de notas de merengue e uma leve sensação vegetal a dar frescura. Um rosé muito frutado, relativamente simples, levemente adocicado mas a terminar seco, que veio fazer companhia a um trio de snacks:
Inhame, Queijo da ilha e Molho vilão
Pão de ló, Algas e Polvo
Banana pão, Costela de vaca e Coentros
Para terminar as entradas, foi servido um Daikon fermentado, Tepache e Castanhas, um prato vegetariano terminado no forno a lenha, com daikon (uma espécie de rabanete), ananás, aipo, molho de tepache (Fermentação das cascas do ananás), um elemento ácido. Belíssima entrada, saborosa, cheias de texturas, com um toque de frescura, acompanhada pelo Verdelho do Pico 2021 branco, aromas de fruta branca pouco madura e fresca, a lembrar nêspera e ameixa branca, complementado com notas vegetais, um vinho muito seco, de perfil vegetal, levemente salino, uma boa harmonização.
Seguiu-se o Rola Pipa 2021 branco, para acompanhar o primeiro prato principal da noite, Boca negra, Cavacos e Maracujá. Um prato com um caldo intenso, cremoso, muito saboroso, estilo bisque, feito com a cabeça do cavaco e com as espinhas do boca negra, com frutas, legumes e algas. O boca negra muito bem confeccionado, bem como o cavaco, um belíssimo prato.
Uma pausa para o pão, de trigo, de massa mãe, acompanhado de manteiga com ananás e azeite fumado.
De regresso aos pratos principais, tendo sido servido um Terras de Lava 2021 Merlot, um tinto de cor aberta, um vinho com uma boa expressão de fruta, acompanhada de um toque fumado e de enxofre, um tinto não muito estruturado, de tanino fino, com leve vegetal, boa persistência, um Merlot interessante, que acompanhou o prato de carne, o Pombo (pombo torcaz dos Açores), Kombo e cevada e trompetas.
Daqui em diante foram só momentos doces, e para ajudar a preparar essa transição, uma pré-sobremesa: Pimenta da terra, Queijo e Azedas. Um momento fresco e leve, com gelado de pimenta da terra, cremoso de queijo e óleo de salsa.
A sobremesa não tardou, e foi servido um Sorbet de chá verde, Araçá e Erva doce. Que grande final, uma sobremesa leve, fresca, com uma grande multiplicidade de texturas a erva doce de fundo, um sorbet de chá verde que introduz frescura mas com um toque vegetal e amargo, o coulis doce. Grande sobremesa!
As harmonizações terminaram com um fortificado, o Lajido 2008, um lote de Verdelho, Terrantez, Arinto dos Açores, leve âmbar na cor, aroma com noites de fruto seco, cítrico a lembrar laranja, madeiras, alguma especiaria, algum caramelo, licor de figo, um vinho quase seco, fresco, com um leve salgado e de boa persistência.
O serviço dos vinhos esteve a cargo do sommelier Ivo Custódio, que fez um belíssimo trabalho, com boas harmonizações e boas apresentações, um serviço não só discreto e competente, como atento, que ajudou a fazer brilhar o menu do chef Tiago Silva, desenvolvido de base para este momento que muito apreciei.
